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ela disse que tinha de ter peneira em casa - 2020
'Ela disse que tinha de ter peneira em casa' é uma pequena série produzida em 2020, composta por fotoperformance em sequência, gif e um vídeo.
O desejo inicial que deu origem a este trabalho foi registrar o objeto-peneira que minha avó me deu quando cruzei da Bahia para o Rio Grande do Sul, e que me acompanhou por muitas moradias desde então. Há um caráter íntimo nesse objeto de afeto, que traz consigo a memória de uma vivência partilhada do lugar onde cresci, como muitos de nós.
Em todas as casas nas quais convivi, havia peneiras penduradas em alguma parede. Em sua maioria, por ser uma cidade pequena no interior, voltada para a agricultura, a peneira era uma ferramenta de trabalho essencial.
Penso nas casas, no corpo, e na memória que permeia os objetos presentes cotidianamente. O que antes parece inanimado, anima nossas relações com o espaço, em nossas realidades, vivências e experiências. Quase como algo que "simboliza" ou marca o tempo, o simples ato de retornar a esses objetos faz com que algo se ressignifique, imensificando o afeto sobre (in)/determinadas memórias.
Aqui, a função da peneira muda. Ela não está mais "cumprindo" seu papel como ferramenta de trabalho agrícola, nem repousando pendurada na parede da casa. Aqui, ela se torna um objeto pendurado no corpo, e o que cessa nela são linhas emaranhadas no gesto. O gesto acarinha a peneira, toca a memória. Ela se torna totalmente inútil, mas serve como um conector da presença mágica que tateia a saudade — de uma memória aconchegada em afetos alegres. Porém, isso não apaga o peso do que o objeto (também) representa em termos de trabalho precarizado, muitas vezes.
A intenção não é anular os pesos, nem atribuir valores românticos ao objeto, mas a memória que, ao longo do tempo em que o objeto está presente no cotidiano, o torna múltiplo. Ele é como um prisma, um caleidoscópio. Olhamos para ele e sentimos suas várias partes: desde sua matéria crua até o momento em que passa pelos afetos e pelo desejo, convidando-nos para o registro. O ato de trazê-lo para mais perto da pele, de tocar, ainda que imaginariamente, essa memória.
Dizem que é sempre bom ter uma peneira em casa, para além de sua utilidade. Ela cessa e protege a casa.



























