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minha filha entra no mundo | 2018 - 2019
Em 2018, numa madrugada no centro de Porto Alegre, em um "sebo" de chão, deparei-me com o livro Minha Filha Entra no Mundo de Soares D'Azevedo (1945). A princípio, o que me atraiu foi o ano e a dedicatória, que exalava a marca do tempo e um desejo particular de colecionar dedicatórias antigas — algo íntimo, de um interesse que me acompanha, mas que ainda não sei definir exatamente o motivo. Contudo, quando cheguei em casa e folheei o livro, percebi que se tratava de uma cartilha de comportamento, escrita por um pai para sua filha. Isso me causou um estalo, um incômodo, especialmente ao ler passagens que utilizavam uma linguagem racista, patriarcal (óbvio), e insultos velados a outras mulheres que detinham algum conhecimento ou liberdade para a época, no que se referia à criação de suas filhas. Esses elementos atuaram como gatilhos para o desdobramento de trabalhos a partir desse livro.
Meu trabalho, além de lidar com questões que atravessam e afetam a mulheridade e o feminismo, é, sem dúvida, pulsado por uma fonte profunda de criação que surge do meu corpo de trabalho. Jamais esse livro passaria despercebido.
Utilizei dele muitos fragmentos, passagens, páginas e seu conteúdo para o desdobramento desta série, da qual me aproprio sem qualquer vergonha de seu título. Minha principal intenção foi transformar as passagens que mais me causavam desconforto em algo poético, rasurando e transmutando o texto em outro. Pensava muito na filha, e no mundo que a "cartilha" de seu pai poderia moldar, interferindo em seu processo de ser uma pessoa no mundo. Muitas vezes, a rasura se dava pela criação da imagem, mas, em sua maioria, a transformação acontecia diretamente no texto.
Essa série é composta por interferências fotográficas, gifs, pinturas, colagens e texto falado em vídeo (dos quais deixei apenas como processo, por sentir que não representavam tanto o que poderia apresentar como trabalho, além de vídeo e outras colagens).



















































