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corpos que surgem do corpo em ato - 2020 - 2021
corpos que surgem do corpo em ato é uma série de imagens fotográficas que atravessa o campo da performance e da construção visual por meio do corpo.
Em sua maioria, as imagens são atravessadas por manipulações digitais — uma forma de torção e dobra da imagem — que criam variações, outros corpos possíveis. Sobreposições de texturas manuais, fragmentos de trabalhos anteriores em pintura, desenho, interferências fotográficas, e registros dos cadernos da desorganização — um arquivo contínuo de ensaios, experimentações, anotações visuais — alimentam essa construção.
Tudo começa e retorna ao corpo.
Esse título, corpos que surgem do corpo em ato, poderia nomear muitos dos processos que atravesso em diferentes suportes, técnicas e linguagens. Ele afirma uma persistência: do corpo como origem do gesto, como centro criador e dispersor. É do corpo em movimento que as imagens emergem, que os acontecimentos se instalam, que atmosferas se condensam.
É também onde a ideia se transforma: se afirma, se nega, se curva à surpresa do processo.
Há sempre um gesto.
Um mover que se inscreve no tempo.
Há sempre o corpo — gerando, inventando, multiplicando-se em si e no mundo.
O corpo. A corpa. Mulher. Bicho. Pessoa.
Se inventando outra.
Atravessando o tempo da imagem.
Povoando a cena de múltiplas versões — sendo muitas, sendo nenhuma.
Essa prática se alinha com uma tradição de artistas que fazem do corpo o território onde a imagem é inscrição e invenção. Ana Mendieta, com seus trabalhos em que o corpo se funde à terra e desaparece nela, ressoa fortemente aqui: a ideia de um corpo que se dissolve para aparecer de outro modo.
Valie Export, ao criar fissuras na norma do corpo feminino através da performance e da imagem, mostra como o corpo pode ser um espaço de ruptura e reconfiguração.
Há ainda Paul B. Preciado, que propõe a ideia do corpo como laboratório vivo, em constante produção, transição e disputa — um corpo que se fabrica em ato, que não é substância, mas fluxo, acontecimento.
A performance, aqui, não é representação: é transmutação, é gesto que cria realidade.
Há algo do grotesco que contorna o trabalho.
Esse grotesco aparece quando o ato (in)tenciona a criação de outros corpos a partir do próprio corpo.
Não há controle. O corpo, ao se oferecer ao tempo da imagem, já se desfaz da intenção.
O acontecimento é mais forte que o plano.
O disparo fotográfico vem depois.
O que resta é a disposição para a experimentação —
Para o erro e suas potências.
Para o inacabado.
Para o que escapa.
Para o que só pode acontecer no entre: entre o corpo e o espaço, entre o gesto e o instante, entre a imagem e o que ela não mostra.
É nesse intervalo que surgem os corpos.
Corpos que não existiam antes do ato.



































































































